quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Vem, vambora...


       Eu realmente tava gostando da nossa história. Pena que era só eu. É incrível como eu já sentia que não acabaria bem. Mas não, eu tinha que tentar. Tinha que me jogar, assim. De corpo. De alma. Eu demorei pra aceitar que você tinha entrado na minha vida. Quando me dei conta, já tinha tomado parte da minha rotina, parte dos meus pensamentos, parte de mim. Já era tarde. E eu não havia me tornado nenhuma parte sua. Nenhum mero sentimento.
       Você foi um bom ator, e quando dizia gostar de mim, era só pra me manter afim. Você não deveria ter feito meu mundo ficar assim. Não deveria ter tornado meus dias melhores e a vida mais fácil. Você não deveria ter feito eu amar a pessoa que eu era quando estava com você. Por que ter chego até aqui, pra ir embora assim? Levando um pedaço de mim? Volta aqui. Me devolve. Só pra eu te ver mais uma vez. Te abraçar mais uma vez. Sentir seu cheiro mais uma vez. Vem, me devolve. Só pra eu achar que eu te tenho, mais uma vez.
       Eu queria ser sua. Queria ser a única, mas somente sua. Eu queria que fosse meu. Queria cuidar, proteger. Cantar pra você dormir e nunca mais acordar desse sonho que eu fiz pra ti. Vem. Ainda dá tempo.
       Aproveita. Aproveita enquanto é tempo. Aproveita enquanto você ainda tem um pedaço meu e enquanto eu ainda estou mergulhada na minha cama, em meio às lágrimas. Aproveita enquanto eu não me refaço. Enquanto não me acho. Enquanto você ainda me tem.


"Entre por essa porta agora, e diga que me adora... 
Você tem meia hora pra mudar a minha vida...
Vem, vambora... que o que você demora, é o que o tempo leva..."

domingo, 3 de agosto de 2014

O que há com você?


Escapou ali um beijo na orelha e uma mão que quis esquentar a outra. Mas a gente correu pra fazer piadinha sexual disso, como sempre. E você olhou do corredor e me perguntou: não to esquecendo nada? E eu quis gritar: tá, tá esquecendo de mim. E você depois perguntou: não tem nada meu aí? E eu quis gritar: tem, tem eu. Eu sempre fui sua. Eu já era sua antes mesmo de saber que você um dia não ia me querer. Mas a gente combinou que não era amor. É o que está no contrato. E eu assino embaixo. Melhor assim. Tô super bem com tudo isso. Nossa, nunca estive melhor. Mas não faz isso. Não faz o mundo inteiro brilhar mais porque você é bobo. Não faz o mundo inteiro ficar pequeno só porque o seu jeito é o melhor. Não deixa eu assim, deslizando pelas paredes do chuveiro de tanto rir porque sua voz fica ridícula brava. Não transforma assim o mundo em um lugar mais fácil e melhor de se viver. Não faz eu ser assim tão absurdamente feliz só porque eu tenho certeza absoluta que nenhum segundo ao seu lado é por acaso. Combinamos que não era amor e realmente não é. Mas esse algo que é, é realmente muito libertador. Porque quando você está aqui, ou até mesmo na sua ausência, o resto todo vira uma grande comédia. E eu tenho vontade de ligar pra todos os outros e falar: "putz, cara, e você acha mesmo que eu gostei de você?" Coitado. Adoro como o mundo fica coitado, fica quase, fica de mentira, quando não é você. Porque esses coitados todos só serviram pra me lembrar o quão sagrado é ser absurdamente feliz mesmo sabendo a dor que vem depois. O quão sagrado é ver pureza em tudo o que você faz, ainda que você faça tudo sendo um grande safado. O quão sagrado é abrir mão de evoluir só porque andar pra trás é poder cruzar com você de novo. Não é amor não. É mais que isso, é mais que amor. Porque pra te amar mais, eu tenho que te amar menos. Porque pra morrer de amor por você, eu tive que não morrer. Porque pra ter você por perto, eu tive que não querer mais ter você por perto pra sempre. E eu soquei meu coração até ele diminuir. Só pra você nunca se assustar com o tamanho. E eu tive que me fantasiar de puta, só pra ter você aqui dentro sem medo. Medo de destruir mais uma vez esse amor tão santo, tão virgem. E eu vou continuar me fantasiando de não amor, só pra você poder me vestir e sair por aí com sua casca de não amor. E eu vou rir quando você me contar das suas meninas, e eu vou continuar dizendo “bonito carro, boa balada, boa ideia, bonita cor, bonito sapato”. E eu vou continuar sendo só daqui pra fora. Porque no nosso contrato, tomamos cuidado em escrever com letras maiúsculas: não existe ninguém aqui dentro. Mas quando, de vez em quando, o seu ninguém colocar ali, meio sem querer, a mão no meu joelho, só para me enganar que você é meu dono. Só para enganar o cara da mesa ao lado que você é meu dono. Eu vou deixar. Vai que um dia você acredita.


"E agora vou mostrar que é bem maior do que todo o céu, bem mais quente que todo o sol, bem mais forte que todo o mar ..."

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

O teu silêncio não traz paz.



       Eu só queria que você falasse. Não é pedir demais, é? Falar é tão simples. E acho que de tão simples, você desaprendeu como se faz. Bom, é mais ou menos assim: você vem, inspira muito ar, expira um terço dele, levanta a cabeça, estufa o peito, olha pra mim e fala. Só… fala. Te ver desenhando com os dedos atrás da minha nuca é gostoso, mas não facilita as coisas. Do que adianta você me encher de beijos e depois sair pela porta em silêncio? Eu preciso ouvir a sua voz. Falando, gritando, rasgando os ventos contrários, tanto faz. Eu só preciso ouvir, mesmo que não mude nada. Fala alguma coisa que quebre essa Era Glacial entre nós dois, por favor. Você apenas sorri enquanto eu tagarelo sílabas intermináveis sobre toda a minha vida, mesmo ela não sendo tão interessante assim. O problema é que eu não me contento em saber apenas como foi o seu dia ou o seu fim de semana na casa dos seus amigos. Eu quero saber também como foi o seu verão passado, o ultimo natal na casa dos seus pais, quando você ganhou o primeiro bichinho de estimação, onde aprendeu a jogar futebol e todas essas coisas memoráveis guardadas aí dentro. Isso tudo sem parecer uma policial investigativa louca, é claro. Eu só queria, na verdade, conhecer um pouco mais o teu passado pra me estabilizar no teu presente. Mas você não fala. Nada. Nem uma palavrinha. E eu sou obrigada a tentar decifrar os mil códigos que se escondem por detrás do seu “bem que a gente poderia se ver de novo, ein?”. O meu medo é não saber o que vem depois da interrogação. E você é o meu maior questionamento sem resposta alguma. Acho que, exatamente por isso, eu sempre acabo aceitando as suas suposições e silêncios. Eu volto, mesmo que você não fale. E eu sempre volto justamente pra te ouvir falar.
O teu silêncio não traz paz...